Reflexões de um imigrante : entre o Canadá e o Brasil

O Canadá é um país maravilho. É um país justo, igualitário, seguro e muito bem organizado. É um país onde você pode escolher a profissão que quiser, sem sofrer preconceitos pelo cargo que vai ocupar, seja de motorista de ônibus, carpinteiro, professor ou analista de sistemas. Todos são igualmente respeitados e o salário são parecidos. É um país onde a mulher não sofre preconceito no trabalho por engravidar ou ter filhos e onde sua idade e experiência são cada vez mais valorizados.

Olhando por essa perspectiva, o Canadá pode parecer um lugar perfeito, e por esse motivo, muitas pessoas pensam que imigrar é fácil e que uma vez morando em um país “tão bom”, não exista a possibilidade de um dia se pensar em voltar para um país com tantos problemas como Brasil. A verdade é que, nesse caso, a lógica e a razão nem sempre funcionam.

Conheço pessoas que moram aqui há 10 anos e não pensam em voltar de jeito nenhum. Outras,não conseguem nem mesmo completar um ano de imigração. Não existe receita para adaptação ou um perfil “X” de imigrante para conseguir passar a vida toda aqui. Tudo vai depender das suas experiências vividas aqui e também tudo o que você viveu no Brasil.

Uma pessoa que chega aqui e consegue um emprego no primeiro mês, vai ter uma experiência diferente de quem passou um ano desempregado. Se essa pessoa desempregada só estudava no Brasil, vai ter uma reação diferente de quem sempre trabalhou. A mesma lógica serve, por exemplo, para quem já foi assaltado. A percepção de segurança é diferente da percepção de quem nunca foi.

Eu mesmo fui uma pessoa que até pouco tempo nunca tinha pensado em voltar pro Brasil. Não que eu quisesse viver em Quebec ou no Canadá pra sempre, mas voltar pro Brasil não estava nos meus planos, até que minha filha nasceu.

O engraçado é que antes dela nascer eu pensava diferente. Ora, todo pai quer o melhor pro seu filho, certo? O que tem de melhor do que poder criar seu filho num país desenvolvido, em segurança e poder ter mais tempo para a família (eu saio do trabalho as 16h30)? Nada, você diria. Mas a vida não é tão simples.

Por exemplo, eu tive uma infância muito boa, sem luxos, mas cercado por irmãos, primos, tios e avós. Eu tenho ótimas lembranças daquela época e agradeço a Deus por ter conhecido e convivido com os meus quatro avós (dois já falecidos), que foram pessoas importantíssimas no meu desenvolvimento tanto pessoal como profissional.

Privar minha filha do contato diário com os avós ou deixá-la crescer sem uma referência familiar mais forte (como a que eu tive) não seria egoísmo da minha parte? Ao mesmo tempo, privá-la de viver num país desenvolvido, onde ela poderá ter mais oportunidades e viver tranquilamente, não seria errado? Eu poderia passar a tarde toda escrevendo meus questionamentos, mas acho que já expliquei meu ponto de vista.

Esse post não significa que decidi que vou voltar para o Brasil. Por enquanto, é apenas uma reflexão. Para algumas pessoas, esse tipo de questionamento sempre vai existir, independente do tempo que passarem aqui, o que não significa que um dia elas voltarão. Refletir uma situação é uma coisa e tomar uma decisão é outra completamente diferente.

3 comentários em “Reflexões de um imigrante : entre o Canadá e o Brasil”

  1. Perfeitamente explicado, Lucas.

    Ao alto dos meus 21, não sei como é ter filhos, mas sempre ouço que muda a percepção de uma pessoa sobre as coisas.

    A escolha por alguma privação certamente você irá fazer, se é que já está fazendo. Mas ela depende muito do quão forte é a tua ligação com teus familiares. Para falar a verdade, eu teria grandes saudades apenas dos meus pais, das minhas irmãs e das minhas avós. Minha família, de ambas partes, pai e mãe (divorciados), são separados por alguma forma – ou por distância, ou por afinidade, ou por desafetos. Com o tempo que todo mundo gasta trabalhando, estudando ou se virando aqui, o que eu percebo é que sobra pouco tempo pra família estreitar os laços – parece que estamos sempre em busca de uma melhor qualidade de vida, buscando preços de aluguéis mais baixos, de um emprego melhor/justo, etc.

    Na minha opinião, e você tem total direito de contrariá-la, você poderia falar dos seus pais frequentemente, explicar quem são eles, seus ensinamentos, histórias, e talvez até reservar uma parte do teu salário todo mês para as passagens, para poderem ver a neta pelo menos uma vez ao ano… é o que eu faria e o que possivelmente irei fazer um dia.

    1. Oi, Igor!

      Você tem toda razão. O grande problema é que a imigração é uma montanha russa. Tem dias que você esta bem e isso não te afeta tando. Em outros dias, quando você não ta muito bem, a duvida parece ser razoável e você tentar encontrar uma boa desculpa para querer voltar. 🙂

      Abs,

      Lucas

  2. Oi Lucas,
    Sou Ana. Professora de inglês num colégio bilingue em São Paulo e gostaria de me mudar definitivo pro Canada, Quebec.
    Por onde começar?
    Falo francês fluentemente também.
    Obrigada.
    Ana.

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